quarta-feira, 9 de junho de 2010

História das Copas do Mundo - 2006


Não é para qualquer um ter uma Copa do Mundo inteira - um mês de futebol, dinheiro e sentimentos - para sempre relacionada com o seu nome. Chile 1962 é a Copa do Garrincha; México 1986, do Maradona. E o Mundial da Alemanha em 2006 poderia, sim, ter sido simplesmente a Copa do Zidane – que também está consideravelmente distante da categoria “qualquer um”.
As atuações do francês nas oitavas-de-final contra a Espanha e nas quartas contra o Brasil, sozinhas, já teriam sido bons argumentos. O gol de pênalti taquicardíaco contra a Itália, na final, também teria colaborado. Só que Zinedine Zidane resolveu fazer mais do que ter um Mundial associado a seu nome e seu desempenho. Em vez disso, levou o conceito além e reduziu toda menção imediata àquela Copa a um só gesto, que durou um segundinho e que nem mesmo foi um gol. Espere o tempo passar e você verá: a Alemanha 2006 foi “a Copa da cabeçada do Zidane no Materazzi”.
Não a Copa em que a Itália, defensiva, desacreditada e desmoralizada pelo escândalo dos resultados arranjados na Serie A, foi tetracampeã; nem a Copa em que a Alemanha, além de pais organizado e de estádios impecáveis, de repente se transformou em seleção ofensiva e em povo caloroso. Aquela foi a Copa da cabeçada, porque nunca na história do futebol se falou tanto sobre um só momento de um jogo – e um instante que sequer foi tão decisivo assim - como sobre aquele instantezinho aos 5 do minutos do 2º tempo da prorrogação.
A cabeçada de Zidane serviu de motivo para se discutir de tudo: a falibilidade dos heróis; a humanização do ídolo; a xenofobia; a redenção dos muçulmanos; o valor da família; a inocência de alguém que escutou xingamentos a vida inteira; a melhor hora para se aposentar; a pior hora para resolver mandar tudo às favas; o impacto psicológico de ver alguém perdendo o controle; o simbolismo da incompreensão ante um mundo injusto; a balbúrdia da Europa diante do seu multiculturalismo recente... Por tudo isso, A Cabeçada foi, no mínimo, o gesto mais significativo do esporte na primeira década do século 21. Como é que não ia ser o resumo daquela Copa?

Curiosidades

Curiosidades

- Catenaccio século 21
Dizer que a Itália se destacou pela defesa não é exatamente novidade, mas no caso da Alemanha 2006 a situação foi especial: o time levou apenas dois gols em sete jogos – um contra e um de pênalti – e teve em Gianluigi Buffon o melhor goleiro e Fabio Cannavaro o segundo melhor jogador da Copa (atrás de Zidane, o melhor com Cabeçada e tudo). O zagueiro ainda foi votado ao final do ano como melhor do mundo da FIFA. Foi nessa Copa também que a Itália se livrou de um fantasma gigantesco: após três eliminações seguidas em disputas de pênaltis (incluída aí a final de 1994 com o Brasil), a Azzurra enfim comemorou da marca da cal.

- Sangue quente
A Alemanha, por sua vez, deixou de lado o histórico pragmatismo: primeiro porque a torcida mostrou orgulho e hasteou bandeiras de modo como nunca se havia visto desde a queda do nazismo – quando o conceito de patriotismo se tornou algo compreensivelmente nebuloso, para não dizer traumático. Mas também dentro de campo o time de Jürgen Klinsmann, que terminou em terceiro lugar, deu motivo para comemorações: foi a equipe que mais marcou gols no torneio, 14, e teve o artilheiro da competição, Miroslav Klose, e a revelação, Lukas Podolski.


- Títulos; os outros
Com desgosto ou não, a Copa foi histórica para o Brasil. Especialmente o jogo das oitavas-de-final contra Gana. Naquele dia, a seleção estabeleceu o recorde que dura até hoje de vitórias consecutivas em jogos de Copa do Mundo: 11. Os 3 a 0 sobre os africanos se somaram aos três triunfos na primeira fase e aos sete da Copa de 2002. O primeiro gol desse jogo foi ainda mais notório: com ele, Ronaldo se tornou o maior artilheiro da história das Copas, com 15 gols – um a mais do que o alemão Gerd Müller.

- Nem de ouro, nem prata
A Copa do Mundo da Alemanha teve tanta coisa boa que ninguém nem reparou muito, mas a media de gols, de 2,3 por partida, foi a segunda mais baixa da história, atrás apenas da Itália 1990. Foi em 2006, também, que a ideia do “gol de ouro”, brevemente adotada, caiu por terra: desde a Olimpíada de 2004 já se havia decidido que a prorrogação ia até o fim, não importa o que acontecesse.

- Dress code
A cervejaria Bavaria inventou uma promoção na Holanda em que suas caixas de latinhas vinham acompanhadas dos “leeuwenhosen” - sobretudos cor de laranja, com um rabo de leão, feitos para que os torcedores Oranje fossem aos estádios da Copa caracterizados (e devidamente portando o logotipo da Bavaria). Acontece que a Budweiser é uma das patrocinadoras da Copa do Mundo, e o regulamento de marketing da FIFA para defender seus parceiros do chamado “marketing de emboscada” é rigorosíssimo. Resultado: na partida entre Holanda e Cosa do Marfim, os fiscais do estádio de Stuttgart obrigaram os holandeses a tirarem seus “leeuwenhosen”. E estavam tão preparados para o constrangimento que já levaram consigo shorts cor de laranja para dar aos torcedores mais pudicos.

- Amarelo, amarelão, amarelíssimo
A arbitragem esteve em voga naquela Copa. Não só pelo numero recorde de cartões amarelos (345) e vermelhos (28), mas por alguns casos específicos como o da Cabeçada – que quem viu foi o quarto árbitro; e até hoje não se sabe se com ajuda da televisão ou não – e principalmente o do britânico Graham Poll, que na partida entre Austrália e Croácia realizou uma proeza impensável até nas peladas de fim de ano da empresa: deu TRÊS cartões amarelos para o mesmo jogador, o croata Simunic, sem expulsá-lo de campo.
- Mãos ao alto!
A maior contribuição para a estatística recorde de cartões foi, sem dúvida, a arbitragem do russo Valentin Ivanov naquela que ficou famosa como “A Batalha de Nuremberg”. Na partida de oitavas-de-final em que Portugal bateu a Holanda por 1 a 0, o juiz estabeleceu um novo recorde para qualquer torneio da FIFA: distribuiu 16 cartões amarelos e quatro vermelhos – para os portugueses Costinha e Deco e os holandeses Boulahrouz e Van Bronckhorst.


- Dedo-duro
Outro jogo famoso envolvendo Portugal e a arbitragem foi o de quartas-de-final contra a Inglaterra. É que Wayne Rooney foi expulso no segundo tempo por pisar no português Ricardo Carvalho, e no dia seguinte à eliminação do English Team nos pênaltis, a mídia inglesa cismou que Cristiano Ronaldo – companheiro de Rooney no Manchester United – teria exagerado no escândalo e na pressão sobre o árbitro argentino Horacio Elizondo para que o inglesinho recebesse o vermelho. As câmeras em seguida teriam captado Ronaldo dando uma piscadinha marota de aprovação para o banco de reservas depois de supostamente ter cavado a expulsão do colega de clube. Pronto. Numa cultura futebolística como a dos ingleses, obcecados pela ideia de punir os trapaceiros, foi pecado mortal: ao voltar a Manchester, Cristiano Ronaldo recebeu uma enxurrada de criticas tão grande que foi então que, pela primeira vez, manifestou seu desejo de deixar os Diabos Vermelhos e se transferir para o Real Madrid. No fim, com os gols e as atuações de gala do português, a birra passou. Mas a imagem de Ronaldo nunca mais foi a mesma na Terra da Rainha.

E o Brasil?


Quase toda derrota do Brasil em Copa do Mundo, não importa em que fase e sob quais circunstâncias, vem acompanhada de, no mínimo, um culpado execrável que nos permite evitar a assunção de que o outro time foi melhor. Isso quando não vem envolta mesmo em teoria da conspiração: jogo vendido, orgia na véspera, corpo mole. Cada um tem sempre uma razão que vai além do “pois é, perdemos”.
Em 2006 foi a mesma coisa: todo mundo tem uma explicação para o porquê de a Seleção Brasileira - a do quadrado mágico de Kaká, Ronaldinho, Ronaldo e Adriano – ter sido derrotada nas quartas-de-final. A diferença é que, nesse caso, a maioria das explicações tem, no mínimo, bons indícios de serem verdadeiras.
Uma coisa é fato e está no cerne da contratação de Dunga para substituir Carlos Alberto Parreira depois da derrota nas quartas-de-final para a França:, O próprio presidente da CBF, Ricardo Teixeira, assume: a preparação do Brasil para aquele Mundial foi um circo. De patrocinadores, torcedores, jornalistas, câmeras de televisão enfiadas em todo canto, privacidade nenhuma e concentração menos ainda. Entre as cidades de Königstein, na Alemanha, e Weggis, na Suíça, a Seleção não fez nada do que deveria, que era se preparar e focar para o torneio do qual era favorita – talvez mais favorita do que qualquer outra equipe que já disputou uma Copa.
Para além desse fato confirmado entram as especulações: Parreira teria perdido o comando da equipe; os supostos líderes do grupo – o núcleo veterano de Cafu, Roberto Carlos e Ronaldo – não vinham ratificando a liderança em forma de grandes atuações e, assim, teriam perdido moral; Ronaldinho teria sido sacrificado para se limitar a ser meio-campista e, por isso, rendido tão pouco; o time teria entrado de salto alto, certo de que era, disparado, o melhor do mundo; os hotéis em que a Seleção se hospedavam teriam se tornado Sodomas e Gomorras toda noite. Tudo assim, nesse tempo imperfeito, por via das dúvidas.

As únicas certezas são o timaço que tínhamos, a raiva que os brasileiros sentiram, a fama de mercenários e preguiçosos que ganharam os astros daquele time durante um bom tempo e a ajeitada de meias do Roberto Carlos. O resto vamos especular para sempre.


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Postado por: Felipe Oliveira às: 17:59 Categoria:

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