O livro "Não Devemos Nada a Você" - uma coletânea de entrevistas da Punk Planet, revista norte-americana voltada ao estilo - ganhou edição brasileira no final do ano passado, lançada pela Ideal Edições.
Originalmente o livro foi lançado em 2001, com entrevistas selecionadas pelo criador da revista, Daniel Sinker. Seis anos depois, com o fim da revista, Sinker adicionou algumas entrevistas e relançou o título em uma versão expandida. É essa versão que chega ao Brasil.
Mais do que simplesmente contar a história do punk, o que "Não Devemos Nada a Você" faz é costurar idéias diversas e pensamentos às vezes contraditórios de modo a delinear um mapa da cultura punk. Deixando de lado estilos musicais ou modas passageiras, o punk é revelado nas atitudes de seus protagonistas.
Com 30 entrevistas profundas e sinceras, o livro foi dividido por temas e dentro de cada tema os entrevistados dão ao leitor uma visão ampla do que o punk tem com aquilo tudo. Logo de cara, na entrevista com Ian Mackaye, do Fugazi, o leitor pode se descobrir meio punk ainda não tenha nunca pensado no assunto. É que o foco aqui é o 'faça você mesmo', máxima punk que conduz todo um estilo de vida. É o pé no chão e a mão na massa. Não é necessário ter cabelos espetados para fazer você mesmo o que quer que seja. Bastam vontade e dedicação.
Mas o punk não é só o jeito direto e cru de Ian Mackaye. Tem o modo discreto e independente de Bob Mould, as intrigas do Black Flag, as buscas pessoais dos integrantes do Gossip, o ativismo político, a defesa do feminismo e do direito ao aborto e as provocações do Negativland entre muitas outras coisas.
Outro tema abordado é a discussão underground X mainstream que sempre provoca reações na cena. O punk pode fazer sucesso? O punk quer fazer sucesso? Jawbreaker, Sleater-Kinney e Steve Albini dão suas respostas. Ou não, já que eles não devem nada a ninguém.
"Não Devemos Nada a Você" fala também de arte e política. Sobre a primeira, mais da filosofia 'Faça você mesmo': o punk se mistura à arte contemporânea e fica claro porque é difícil encontrar limites para certas definições. A arte punk é artesanal e se coloca contra a cultura de massa, contra a pasteurização da arte.
Já sobre a política, como esperado, os discursos pendem para a esquerda. Cabe até uma entrevista com Noam Chomsky, queridão citado por 9 entre 10 esquerdistas. Às vezes as idéias soam anacrônicas e ultrapassadas, é fato. Mas sempre soa sincera a vontade de revolucionar o mundo ou pelo menos encontrar uma maneira de torna-lo um lugar melhor para se viver.
Para terminar a compilação, um capítulo é dedicado aos fracassos do punk. Mas não se trata do fracasso do movimento como um todo. É o fracasso das mensagens mal interpretadas, das ideologias pervertidas, da falta de tolerância dentro de algo que começou exatamente para combater preconceitos e lutar contra conservadorismos inúteis. Mas essas entrevistas finais não mostram que o punk fracassou. Mostram que o ser humano, punk ou não, pode sempre pisar na bola. E, às vezes, pisa feio.
"Não Devemos Nada a Você" revela que o punk pode ser muito mais colorido do que carrancudo, como costuma ser pintado. Que o punk não precisa se prender a dicotomias como direita-esquerda, underground-mainstream, isso-ou-aquilo. Dentro do punk, há espaço para muitas outras possibilidades. Inclusive para sutilezas e humor.
sexta-feira, 30 de abril de 2010
O Punk não deve nada a ninguém - Livro desenha mapa da cultura punk
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Postado por: jester knight às: 06:31 Categoria: Filmes e Música
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